Dar perfume é presente ou provocação? A verdade por trás dessa polêmica.

Entenda por que presentear perfumes gera tanta polêmica e como fazer dessa escolha um gesto consciente. Uma reflexão sobre a intimidade, a memória e o impacto emocional por trás de presentear perfumes.

IDENTIDADES OLFATIVAS E PERFUMES

Aline Maliuk

12/7/20253 min read

Todo fim de ano traz à tona uma velha polêmica: dar perfume é um presente sofisticado ou uma verdadeira armadilha emocional?


Para alguns, é um gesto íntimo, elegante, quase poético. Para outros, é delicado demais, arriscado demais, invasivo demais. A verdade é que nenhum outro presente toca tantas camadas invisíveis quanto um perfume.

O perfume não é apenas um objeto ou cosmético. Ele atravessa identidade, memórias, traços emocionais, experiências vividas, afetos e até inseguranças. Por isso mesmo, poucos presentes têm o potencial de emocionar tanto… ou de tanto desconforto e mal-estar. Tudo depende da intenção — e do vínculo entre quem oferece e quem recebe.

Por que é tão fácil acertar — e tão fácil errar?

O olfato é o único sentido que conduz direto ao sistema límbico: região do cérebro que processa emoções, memórias e afetos. Por isso, um perfume pode:
– despertar lembranças antigas, inclusive dolorosas;
– ativar sensações de conforto, segurança e pertencimento;
– ou provocar rejeição imediata — mesmo que a pessoa não saiba explicar o porquê.

Além disso, cada pele responde de um jeito. Temperatura, rotina, alimentação, personalidade, saúde e até o momento emocional alteram complet

amente como a fragrância se comporta. E perfume é como oferecer algo que vai conviver com a intimidade da pessoa todos os dias.

Quando o perfume pode ser um excelente presente

Há situações em que o perfume se transforma em um gesto lindo, cuidadoso e cheio de significado:

✔️ Quando existe proximidade real: Você conhece a pessoa, os gostos, o estilo de vida, o jeito de ser.

✔️ Quando você sabe o perfil olfativo dela: Cítricos para quem ama leveza; florais para quem vive afetos; amadeirados para quem busca força; gourmands para quem abraça a própria doçura; profundos e resinosos para quem gosta de intensidade.

✔️ Quando há conexão afetiva: Às vezes, o perfume tem um significado especial para ambos. Pode ser uma memória, um reencontro ou um momento compartilhado.

✔️ Quando é um presente personalizado : No caso de perfumes terapêuticos, psicoaromas ou criações autorais, a saber o estilo de perfumaria que eu produzo, desta forma o presente se transforma em experiência, não apenas em produto.

✔️ Quando a intenção é oferecer cuidado — e não impor expectativa: Presentear com perfume é dizer: “Eu vejo você.” - E não: “Quero que você cheire assim.”

Quando NÃO dar perfume

Porque, sim, há situações em que o perfume pode ser interpretado de forma negativa ou até ofensa pessoal. Selecionei algumas possibilidades para que você entenda melhor:

✖️ Quando existe intenção de “corrigir” o cheiro do outro - Isso fere autoestima e cria desconforto.

✖️ Quando você não conhece a pessoa o suficiente - Perfume é íntimo. Sem referência, é pura sorte — ou risco.

✖️ Quando a pessoa tem sensibilidade olfativa - Alguns perfumes podem causar gatilhos, dores de cabeça ou ansiedade.

✖️ Quando a relação é formal demais - Presentes íntimos em relações distantes podem gerar interpretações equivocadas.

✖️ Quando há histórico de gatilhos emocionais ligados a cheiros - Cheiro é memória. E nem todas são boas.

O que o perfume comunica — mesmo em silêncio. Então Como escolher um perfume com consciência já que cada escolha olfativa diz algo?

Entender isso ajuda a escolher um presente que conversa com quem a pessoa é — e não apenas com o que está na moda ou em alta. Muitas pessoas jamais usariam um perfume árabe, por exemplo por considera-lo muito imponente, invasivo ou mesmo marcante. Logo, se a sua intenção é presentear perfume, que seja assim:
– observando o estilo da pessoa;
– entendendo como ela gosta de se sentir;
– lembrando que perfume é diálogo, não imposição;
– aceitando que aroma é emoção pura — e merece respeito.

No fim das contas, a polêmica existe porque perfume não é só um presente. É uma linguagem.
Uma forma sutil de dizer ao outro que você o percebe, que deseja que ele se sinta bem, que você se identifica com algo nele. E, quando há cuidado, presença e intenção genuína, o perfume deixa de ser risco e se torna exatamente o que sempre foi: um gesto profundamente humano, sensível e memorável.

Mas nunca desconsidere as orientações que você leu aqui.

Um abraço perfumado da perfumista  AM